Por Fernanda Valente
A educação é um processo complexo que não se resume apenas à transmissão de conhecimento. É essencial que os educadores adotem uma abordagem diferenciada ao se relacionarem com os alunos, a fim de compreender seus anseios e desejos. Neste contexto, a prática da escuta ativa surge como uma ferramenta valiosa para estabelecer uma conexão genuína com os estudantes. Inspirada por Rubens Alves e seu trecho "Sugiro então aos professores que, ao lado da sua justa preocupação com o falar claro, tenham também uma justa preocupação com o escutar claro. Amamos não a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A escuta bonita é um bom colo para uma criança se assentar…" (Alves, 2018, p. 26), é possível refletir sobre a importância desse aspecto negligenciado no ambiente educacional.
Ao adotar a escuta ativa como prática pedagógica, os educadores têm a oportunidade de compreender as necessidades e motivações de seus alunos de uma maneira mais profunda. Em vez de apenas transmitir informações, eles se tornam facilitadores do processo de aprendizagem, estabelecendo um ambiente acolhedor e seguro. Os anseios e desejos dos alunos são levados em consideração, e suas vozes são valorizadas. Isso resulta em uma relação de confiança entre professor e aluno, que é fundamental para o desenvolvimento holístico do estudante.
A escuta ativa envolve técnicas específicas que podem ser praticadas pelos educadores. Primeiramente, é essencial demonstrar interesse genuíno pelo que os alunos têm a dizer. Isso significa dedicar tempo e atenção, estabelecendo contato visual e usando linguagem corporal aberta e receptiva. Além disso, é importante evitar interrupções e julgamentos prematuros, permitindo que os alunos se expressem livremente. Os educadores também podem utilizar técnicas de reformulação, fazendo perguntas claras e incentivando os alunos a aprofundar suas ideias. Dessa forma, a escuta ativa se torna uma prática eficaz para promover a participação ativa dos alunos na sala de aula.
A abordagem educacional baseada na escuta ativa oferece uma oportunidade valiosa para estabelecer uma conexão significativa entre educadores e alunos. Ao adotar essa prática, os professores têm a possibilidade de compreender melhor os anseios e desejos de seus alunos, promovendo um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e enriquecedor. A escuta ativa não apenas fortalece o relacionamento entre professor e aluno, mas também permite que cada estudante se sinta valorizado e ouvido.
Ao praticar a escuta ativa, os educadores podem identificar as necessidades individuais dos alunos, adaptando suas abordagens de ensino para atender a essas necessidades. Isso resulta em uma educação mais personalizada, que reconhece a diversidade de habilidades, interesses e estilos de aprendizagem presentes na sala de aula. Além disso, ao ouvir atentamente os anseios e desejos dos alunos, os educadores podem ajudá-los a desenvolver habilidades socioemocionais, como empatia, respeito e colaboração.
A citação de Rubens Alves ressalta a importância da "escuta bonita" como um "bom colo para uma criança se assentar". Essa metáfora evoca a sensação de segurança, acolhimento e cuidado que a escuta ativa proporciona aos alunos. Quando os educadores se tornam "ouvintes bonitos", eles abrem espaço para que os estudantes se expressem, compartilhem suas experiências e se sintam verdadeiramente compreendidos.
Contudo, a prática da escuta ativa na educação é fundamental para construir um ambiente de aprendizagem que valoriza e respeita os alunos. Ao adotar essa abordagem, os educadores demonstram um compromisso genuíno com o bem-estar e o desenvolvimento integral de cada estudante. Através da escuta ativa, os anseios e desejos dos alunos são reconhecidos, promovendo uma educação mais inclusiva, participativa e significativa.
A escuta ativa é uma habilidade essencial para educadores que desejam estabelecer uma comunicação eficaz com seus alunos. Aqui estão cinco técnicas para começar a trabalhar com a escuta ativa:
1. Demonstre interesse genuíno: Mostre aos seus alunos que você está interessado em ouvir o que eles têm a dizer. Faça contato visual, acene com a cabeça e use linguagem corporal aberta para transmitir que você está envolvido e atento ao que está sendo dito.
2. Evite interrupções: Evite interromper seus alunos enquanto eles estão falando. Permita que eles expressem suas ideias e opiniões completamente antes de responder. Espere por uma pausa natural na fala deles antes de contribuir com seus próprios comentários.
3. Faça perguntas claras: Faça perguntas abertas que encorajem seus alunos a elaborarem suas respostas. Evite perguntas fechadas que possam ser respondidas com um simples "sim" ou "não". Perguntas como "Você pode me contar mais sobre isso?" ou "Como você se sentiu quando isso aconteceu?" incentivam a expressão de pensamentos e sentimentos.
4. Pratique a escuta ativa reflexiva: Repita ou parafraseie o que seus alunos disseram para mostrar que você está ouvindo e compreendendo. Por exemplo, você pode dizer: "Então, se entendi corretamente, você está dizendo que..." Essa técnica ajuda a confirmar sua compreensão e permite que os alunos se sintam ouvidos.
5. Elimine distrações: Crie um ambiente propício para a escuta ativa, minimizando as distrações. Desligue telefones celulares, feche laptops e evite interrupções desnecessárias. Isso mostra aos alunos que você está totalmente presente e dedicado a ouvi-los.
Lembre-se de que a escuta ativa é uma habilidade que requer prática contínua. Quanto mais você a exercitar, mais eficaz se tornará na comunicação com seus alunos e no estabelecimento de um ambiente de sala de aula positivo e colaborativo.
É importante ressaltar que tanto no Brasil como na Europa existem escolas que são modelos ao tratar-se da prática da escuta disso. Uma das minhas inspirações, é uma escola europeia: A Escola da Ponte, em Portugal, é conhecida por sua abordagem centrada no aluno e pela valorização da participação ativa dos alunos no processo educacional. Os professores praticam a escuta ativa, promovendo uma cultura de diálogo aberto e respeitoso. Os alunos são encorajados a expressar suas ideias, opiniões e preocupações, e são envolvidos na tomada de decisões sobre seu próprio aprendizado. Essa abordagem resulta em maior motivação dos alunos, melhor autoestima e desenvolvimento de habilidades de comunicação eficaz.
No Brasil posso citar dois exemplos de escolas brasileiras que praticam a escuta ativa: A Escola Vera Cruz, localizada em São Paulo, é conhecida por sua abordagem pedagógica inovadora, que prioriza a escuta ativa dos alunos. Os professores são treinados para ouvir atentamente as vozes dos alunos, valorizando suas opiniões, ideias e experiências. A escola promove práticas de diálogo aberto, discussões em grupo e projetos colaborativos, onde os alunos têm a oportunidade de expressar suas perspectivas e contribuir ativamente para o processo de aprendizagem. Essa abordagem fortalece a autonomia dos alunos, desenvolve habilidades de comunicação e promove um ambiente de respeito e escuta mútua. Outra, é a Escola Lumiar, uma rede de escolas localizada em São Paulo e no Rio de Janeiro que adota uma abordagem educacional baseada na escuta ativa e no protagonismo dos alunos. A escola valoriza a participação ativa dos estudantes, permitindo que eles contribuam com suas opiniões e decisões sobre o currículo, as atividades e o ambiente escolar. Os professores atuam como facilitadores, estimulando os alunos a expressarem suas vozes, ouvindo suas perspectivas e incentivando o diálogo construtivo. Essa abordagem fortalece a autoconfiança, a capacidade de expressão e a responsabilidade dos alunos em sua própria aprendizagem.
Essas escolas brasileiras são exemplos de instituições que adotam a escuta ativa como parte integrante de sua abordagem pedagógica, valorizando a participação dos alunos e criando um ambiente de aprendizagem mais colaborativo e inclusivo.
Embora a implementação da escuta ativa possa variar de escola para escola, algumas instituições públicas do Brasil têm adotado abordagens pedagógicas que valorizam a participação dos alunos e promovem a escuta ativa. A Escola Amorim Lima, localizada em São Paulo, é uma escola pública que adota uma abordagem pedagógica participativa e inclusiva. Os professores e funcionários da escola trabalham em colaboração com os alunos e suas famílias, promovendo uma cultura de diálogo aberto e escuta ativa. Os alunos são incentivados a expressar suas opiniões, participar de assembleias e contribuir para a gestão da escola. Essa abordagem fortalece a participação dos alunos na tomada de decisões e cria um ambiente de respeito e cooperação. Outro exemplo, é a Escola Classe 413 Norte, localizada em Brasília, uma escola pública que tem como objetivo promover a participação ativa dos alunos em seu processo educacional. A escola adota práticas de escuta ativa, realizando rodas de conversa, assembleias e projetos colaborativos que valorizam as vozes dos alunos. Os professores estão comprometidos em ouvir as perspectivas e necessidades individuais dos estudantes, adaptando suas práticas de ensino para atender a essas necessidades. Essa abordagem promove a autonomia dos alunos, o respeito mútuo e a construção coletiva do conhecimento.
As escolas públicas integrais do Estado de São Paulo também já iniciaram a prática. É comum causar estranhamento em quem não conhece o método. Porém, vale a pena pesquisar, pois é um novo momento da educação. É importante ressaltar que a escuta ativa pode ser adotada em diferentes graus e formas, e pode variar entre as escolas públicas do Brasil.
Aqui estão algumas sugestões de livros que abordam o assunto da escuta ativa:
1. "A Arte de Ouvir o Coração" por Michael P. Nichols - Este livro explora a importância da escuta ativa nos relacionamentos interpessoais, oferecendo estratégias práticas para aprimorar essa habilidade.
2. "A Escuta Ativa: Guia Prático para Melhorar a Comunicação" por Carl R. Rogers e Richard E. Farson - Escrito por dois renomados psicólogos, este livro apresenta conceitos e técnicas fundamentais da escuta ativa, juntamente com exemplos e exercícios para ajudar os leitores a desenvolver essa habilidade.
3. "O Poder da Escuta" por Lynne M. Hurdle - Este livro explora a importância da escuta ativa na liderança, nos negócios e nos relacionamentos pessoais. Oferece insights valiosos e estratégias práticas para se tornar um ouvinte mais eficaz.
4. "Ouvir: O Segredo para a Comunicação" por Madelyn Burley-Allen - Neste livro, a autora aborda a escuta ativa como uma ferramenta poderosa para melhorar a comunicação interpessoal. Ela fornece dicas e técnicas para se tornar um ouvinte mais envolvido e eficiente.
5. "A Essência da Comunicação" por Quentin J. Schultze - Embora não seja exclusivamente sobre escuta ativa, esse livro explora os princípios fundamentais da comunicação eficaz. Ele aborda a importância da escuta ativa como parte integrante da comunicação bem-sucedida.
6. "A Educação dos Sentidos", de Rubem Alves, é uma obra de extrema relevância, pois aborda a importância de uma educação que vá além do intelecto, estimulando os sentidos e as emoções. O livro nos convida a refletir sobre a importância da sensibilidade, da imaginação e do prazer no processo educativo, ressaltando que a aprendizagem não deve ser apenas uma transmissão de conhecimentos, mas também um despertar para a beleza e para o prazer de aprender. Com uma linguagem envolvente, o autor nos mostra como é fundamental valorizar a curiosidade, a criatividade e a capacidade de se maravilhar diante do mundo. Uma leitura inspiradora e transformadora para educadores, pais e todos aqueles que desejam repensar os caminhos da educação.
Esses livros podem fornecer insights valiosos e orientações práticas para aprimorar suas habilidades de escuta ativa.
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