Dia Internacional da Pessoa com Deficiência: soluções transformadoras para o desenvolvimento inclusivo
Por Olga Maria Tavares de Souza*
“Soluções transformadoras para o desenvolvimento inclusivo”, este é o tema escolhido pela ONU para em 2024 celebrar o dia 03 de dezembro, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. O objetivo da data é provocar o debate na sociedade sobre a importância da garantia dos direitos das pessoas com deficiência.
Para nós, que experimentamos a deficiência em primeira pessoa, este é um dia importante para dar visibilidade à nossa forma de ser e de estar no mundo. Eu sou uma mulher amputada, com deficiência física adquirida na década de 1970, quando não havia discussões sobre a deficiência. Ela era entendida na perspectiva médica, que priorizava a corponormatividade. A prótese, revestida de espuma, simulava uma perna e sempre era usada com calças compridas, eu procurava esconder as minhas diferenças. E foi somente com as mudanças na perspectiva sociológica e o rompimento com o modelo médico da deficiência que descobri uma nova forma de habitar o meu corpo.
Vale ressaltar que assim como eu, mais de 18 milhões de pessoas convivem com a deficiência no Brasil, segundo dados da PNAD 2022 do IBGE. E, no caso das pessoas que necessitam de órteses e próteses no dia a dia, o avanço tecnológico tem transformado significativamente essa experiência, trazendo mais autonomia e independência em nossas atividades diárias.
No meu caso, o acesso a novas tecnologias e a descoberta de novos componentes que permitem maior segurança no meu caminhar, modificaram totalmente a minha corporalidade. No modelo médico da deficiência, usando um joelho 3R15, desenvolvido na Segunda Guerra Mundial, somente calças compridas. No modelo social da deficiência, com acesso ao joelho eletrônico Cleg, uma prótese de alta tecnologia desenvolvida pela alemã Ottobock, somente saias e vestidos que deixam meus componentes à mostra para pontuar a diferença de meu corpo.
Lembro aqui que atualmente as empresas no setor de reabilitação, como a rede ottobock.care, por exemplo, contribuem positivamente para oferecer diversas opções de tecnologias e diferentes designs de próteses e órteses, que ajudam a estabelecermos nossas diferenças. Além disso, após muitos anos de amputação passei por um novo processo para utilizar todos os benefícios tecnológicos que minha nova prótese me proporcionou. Tudo isso apoiada por uma equipe multidisciplinar que buscou soluções personalizadas para minha demanda, me escutou e ofereceu suporte para realizar as tarefas e os novos movimentos sem um caráter impositivo, mas em parceria, para alcançar meus objetivos.
Durante a construção da minha dissertação de mestrado, investiguei a influência que os modelos da deficiência exercem nas corporalidades. O modelo médico defendia que a deficiência se estruturava no corpo, já o modelo social fez uma releitura da conceituação usada até aquele momento e considerou que a deficiência se estabelece com as barreiras impostas pela sociedade. Essa mudança de perspectiva trouxe um novo olhar para a acessibilidade e uma valorização para as novas tecnologias que permitem maior autonomia e independência. Assim, a deficiência saiu do campo exclusivo do corpo para se constituir a partir da eliminação das barreiras.
Ainda em minha pesquisa, identifiquei que a desigualdade social em nosso país é a grande responsável por histórias de segregação, ausência de direitos e invisibilidade, que aparta o indivíduo dos direitos básicos para viver em igualdade de condições com as demais pessoas.
Neste sentido, acredito que é fundamental a eliminação de toda forma de barreiras e que a desigualdade social deve ser erradicada pela justiça social, para que todos tenham acesso às novas tecnologias, pois elas, certamente, são as soluções transformadoras para o desenvolvimento inclusivo.
*Olga Maria Tavares de Souza é assessora parlamentar na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e membro da Frente Nacional de Mulheres com Deficiência. Doutoranda em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), tem mestrado em Antropologia pela UFF e é ex-coordenadora da Política Estadual de Direitos das Pessoas com Deficiência do Rio de Janeiro.
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