Fernanda Valente
Imagem: Maurício Tonetto (SECOM)
A recente onda de enchentes que castigou o Rio Grande do Sul deixou marcas profundas na pecuária, afetando milhares de animais. Bovinos, suínos e aves padecem não só com as águas que devastaram a região, mas também com a falta de alimentos e os desafios decorrentes dos bloqueios nas rodovias.
As chuvas intensas resultaram em cenas dramáticas, com animais sendo arrastados pela correnteza ou morrendo afogados em instalações inundadas. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou que pelo menos 10 unidades produtoras de carne foram severamente afetadas, prevendo-se mais de 30 dias para normalização das operações.
Cristina Diniz, diretora da ONG Sinergia Animal, alerta para a gravidade da situação, enfatizando que além do prejuízo econômico, há uma questão de bem-estar animal em jogo, com milhares de vidas em sofrimento. No Vale do Taquari, um dos mais afetados, a indústria suinícola é especialmente proeminente, com quase 2 milhões de porcos abatidos anualmente.
Em Harmonia, no Vale do Caí, dezenas de frangos foram encontrados mortos, e em Triunfo, os bovinos lutaram para sobreviver com água até o pescoço. Uma empresa de resgate relatou ao Globo Rural as dificuldades enfrentadas para salvar animais, tendo resgatado mais de 500 bois em três dias.
A bióloga e especialista em bem-estar animal, Patricia Tatemoto, ressalta que os animais na pecuária, muitas vezes criados em alta densidade, não têm como escapar das enchentes, diferentemente do que ocorreria em seu habitat natural. Este cenário é particularmente trágico para animais confinados, como porcas gestantes e bezerros da indústria leiteira.
As enchentes também evidenciaram a fragilidade de sistemas mais extensivos. Búfalos foram vistos correndo pelas ruas de Porto Alegre após serem arrastados por mais de 20 quilômetros pela correnteza, e em Roca Sales, porcos foram filmados em situações desesperadoras ao longo das estradas rurais.
Diniz enfatiza a necessidade de planos de contingência que incluam a proteção desses animais, especialmente em um setor que tem intensificado a reprodução animal e criado rebanhos em condições artificiais.
A situação é agravada por problemas logísticos e de infraestrutura, que afetam até as regiões menos impactadas pelas chuvas. O frigorífico Agrosul Agroavícola em São Sebastião do Caí, por exemplo, suspendeu suas operações devido à incapacidade de transportar funcionários e animais ou escoar a carne.
A ABPA destaca que os prejuízos vão além dos danos estruturais, apontando a perda de recursos básicos como água, eletricidade e telecomunicações. Com o aumento das ocorrências climáticas extremas, a ONU já havia alertado para o impacto desses eventos, especialmente nos países do Sul Global.
A crise atual demonstra a vulnerabilidade do sistema de produção industrial e a necessidade urgente de mudanças para garantir a segurança e bem-estar dos animais, mesmo diante de catástrofes naturais.
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