Fernanda Valente
No Dia Internacional de Pessoas Afrodescendentes, Mamadou Ba, ativista antirracista e dirigente do Movimento SOS Racismo, lançou luz sobre a luta dos refugiados e o papel do racismo na sociedade. O ativista luso-senegalês, que vive atualmente no Canadá, enfatizou a necessidade de reconhecer e combater a xenofobia sistêmica.
“Para os refugiados e migrantes, o corpo é o próprio país”, disse Ba, destacando que a discriminação e o preconceito são experiências comuns para os deslocados. Ele reforça que a sociedade precisa aprender com os refugiados, que são obrigados a manter viva a esperança de futuro em meio a situações catastróficas.
Contrapondo a visão de que a proteção internacional é um tipo de favor, Ba argumenta que o refúgio é uma obrigação moral. "O direito à mobilidade é um direito universal, que engloba o direito à vida, a querer viver, a respirar e a aspirar por uma condição melhor", afirma.
Ba defende que a dignidade humana deve ser priorizada acima de qualquer circunstância institucional, administrativa e política. Ele convoca a implementação de políticas públicas para responder às novas vulnerabilidades – deslocamentos em massa causados por crises climáticas, guerras e fome.
Para Ba, os refugiados precisam ter acesso a quatro pilares fundamentais em qualquer estado democrático: saúde, emprego, habitação e educação. "Esses quatro componentes são fundamentais para que uma pessoa possa reconstruir sua vida após uma tragédia", disse.
Em 31 de agosto, as Nações Unidas celebram o Dia Internacional de Pessoas Afrodescendentes, um alerta para o racismo e a discriminação racial profundamente enraizada e sistêmica. Ba acredita que datas como essa são importantes para definir a consciência coletiva. “Os afrodescendentes são uma parte da humanidade que habita este planeta e que merece e deve ter direito à justiça racial, econômica e climática”, disse.
Na última semana, Ba esteve em Belém, Pará, para uma série de atividades promovidas pela Prefeitura de Belém e pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Através da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ele conheceu refugiados do Haiti e indígenas da Venezuela. As experiências compartilhadas por eles tocaram profundamente o ativista.
Ermano Prévoir, um refugiado haitiano que participou da conversa, disse que a atividade foi de muito aprendizado. "Esse trabalho de conscientização sobre o racismo é para que todo o mundo possa entender que todos nós temos importânciapara o desenvolvimento sustentável do mundo", acrescentou Prévoir.
Ba enfatiza que o racismo e a xenofobia são incompatíveis com a democracia, pois estão enraizados em ideias de violência, exclusão e perseguição. "Para construir a democracia, temos que derrotar o racismo. E para derrotar o racismo temos de entender que cada ato antirracista é um ato de amor à humanidade, e um ato de desamor à repressão e à violência", disse.
As palavras de Ba ressoam de forma poderosa em um momento em que o mundo continua a lutar contra as desigualdades raciais e a crise de refugiados. Seu chamado para a ação é claro - é preciso que todos reconheçam a humanidade dos refugiados e afrodescendentes, valorizem suas experiências e aprendam com elas, para construir uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva.
As atividades em Belém, que serviram de plataforma para essas discussões vitais, foram extremamente valiosas para todos os participantes e para a comunidade em geral. As experiências compartilhadas pelos refugiados haitianos e indígenas venezuelanos ressaltam a urgência e a importância das palavras de Ba.
A história de Mamadou Ba, e a luta contínua dos refugiados e afrodescendentes contra a repressão e a violência, são um lembrete poderoso de que a busca por justiça, igualdade e dignidade humana deve ser uma luta de todos.
Fonte: ACNUR - Agência da ONU para refugiados
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